Preparadas para ouvir a coisa mais inacreditável de todos os tempos? Existe vida sem televisão! Sim! Isso mesmo, você não leu errado! E o mais incrível: existe um estranho grupo de pessoas espalhados pelo mundo (que não são Amish) que nem ao menos tem um aparelho de TV em casa. Eu já sabia da existência deles, mas me deparei novamente com esse grupo alguns dias atrás.

Volta e meia as polêmicas sobre a famigerada emissora de TV vem à tona. Hoje é por causa de uma tal de ‘Babilônia’, mas esse alvoroço todo já foi por causa de uma ‘Torre de Babel’, de uma ‘Da cor do Pecado’, etc. É um rebuliço daqueles, uma comoção, uma revolta geral. Eu já posso até imaginar o tamanho do bafafá, do rebuliço e do alvoroço quando, daqui há um tempo, estrear a novela Sodoma e Gomorra (imagino que escolhem esses nomes bíblicos na certeza de que o burburinho gerado vai ser excelente para o ibope).

Morro e não entendo a indignação do povo. Chega a ser irônico. É simples, é como aquela história da árvore. Como uma fonte podre vai produzir algo que não seja podridão? Guardem a admiração para quando sair algo puro e bom de lá.

As pessoas se revoltam como se fossemos fadados e irremediavelmente ligados e dependentes das TVs. Como se não pudéssemos viver sem ela e, por isso, houvesse um direto implícito de quem assiste de receber conteúdo de qualidade e uma obrigação de quem faz a programação de cuidar bem do que está entrando em nossas casas.

A verdade é que não podemos esperar e é quase impossível exigir isso. Por outro lado, podemos pensar melhor essa história da nossa relação com a televisão e do poder que ela tem nas nossas vidas.

Quero logo lhe dizer que não sou da ala radical-conservadora-extremista que execra e condena a TV como algo do maligno. Eu gosto de TV. Tenho meus programas e séries favoritos. Mas a sensação de que ela estava tomando espaço demais aqui em casa, junto com outros motivos, me fez lançar um desafio de 1 semana sem TV. Confesso que relutei muito antes de abrir a boca e propor isso ao marido porque sabia que não seiria nada fácil. Já havíamos conseguido cortar a TV por assinatura (por questões financeiras) mas tudo?? Até Netflix?? O que a Valentina (4 anos) iria fazer nas horas livres sem os desenhos animados?? E quem entreteria a Carol (9 meses) pra eu poder fazer o almoço se não a Galinha Pintadinha ou o Bob Zoom?? E o que eu ficaria fazendo nas longas e intermináveis horas enquanto amamento ou espero as meninas dormirem??

O medo foi grande, mas não maior que a curiosidade de tentar. Como disse, alguns motivos me despertaram para isso. 1. A sensação de exagero – a primeira coisa que fazíamos ao chegar em casa ou entrar no quarto era ligar a televisão. Acho que ela passava praticamente o dia todo ligada. 2. Reencontrar no facebook esses seres estranhos (jovens, inteligentes, ‘descolados’) que conseguiam sobreviver sem esse aparelho de ‘necessidade básica’ – ou seja, era possível. 3. Alguns artigos que relacionavam à melhor aprendizagem das crianças a pouca quantidade de tempo em frente à TV – como mãe de duas crianças, se isso é verdade, deveria pelo menos levar em consideração pelo bem das minhas crias. 4. Alguns artigos que relacionavam as crises de terror noturno à exposição exagerada aos estímulos da TV – Valentina vinha apresentando algo muito semelhante à isso com muita frequência, o que estava causando um verdadeiro transtorno em nossas noites. Logo, motivos de sobra!

Pois bem, o desafio de uma semana foi lançado e nós não morremos. Na verdade descobrimos que nem precisamos de tanta TV assim. No fim das contas, o que era pra ser uma semana se transforou em duas, três... e até eu mesma me surpreendi quando olhei agora no calendário e descobri que já vamos completar 2 meses sem ligar a televisão.

Minha intenção não é sugerir a você que quebre sua TV e elimine-a de vez de sua casa, mas quero dizer que dependemos e precisamos dela bem menos do que imaginamos. E digo por experiência própria, mesmo tendo crianças. Acredito que o segredo está em saber regrar. A nossa experiência nos fez muito bem. Deixá-la desligada nos trouxe muitos benefícios que posso compartilhar com você. Veja só o que 1 semana (agora já 2 meses!!) sem TV fez com a minha casa.

Minha casa ficou mais silenciosa, mais calma – quem tem crianças pequenas já sabe: elas fazem muito barulho. Descobri que, no lugar de ajudar, a televisão era mais um ruído que muitas vezes deixava o ambiente mais estressante ainda.

Minha casa ficou mais adoradora – o silêncio da TV desligada abriu espaço pra músicas. Valentina, enquanto brinca com seus brinquedos, canta as músicas que aprendeu na igreja. As horas de colocar as meninas pra dormir também se encheram de louvores.

Minha casa ficou mais intercessora – sem a TV descobri um momento só meu, no qual eu não posso fazer nada além de sentar e esperar – a hora da amamentação. No lugar de aproveitá-lo pra assistir tv, descobri um momento precioso para falar com Deus e interceder por meu lar, minhas filhas, meus irmãos.

Minha casa ficou mais divertida – sem TV, o jeito é sentar no chão, espalhar todos os brinquedos e se envolver nas brincadeiras com as crianças

Minha casa ficou maior – eu não estou louca não, é isso mesmo. Desligar a TV fez com que explorássemos e utilizássemos outras partes da nossa casa. Antes tudo girava em torno do quarto e da sala de estar. Sem TV passamos a desfrutar mais das varandas, jardins, etc.

Minha casa ficou mais saudável – não sou especialista, mas posso dizer da experiência que tivemos. Depois que desligamos as TVs Valentina parou de ter os pesadelos e toda a agitação durante o sono. Não posso cientificamente relacionar uma coisa à outra, só sei que o negócio melhorou por aqui.

Enfim, os benefícios têm sido muitos. Se tenho vontade de ligar a TV? Sim, as vezes tenho, mas logo aparece algo melhor pra fazer e eu esqueço. Se me proíbo de ligá-la? Não, posso ligá-la quando decidir (por exemplo, assim que sair o episódio novo da minha série favorita). Se eu quero voltar à mesma rotina de TV de antes? Isso não, de maneira nenhuma!

Renata Veras