Mães e Filhos
Como mudei radicalmente a forma de ver a maternidade.
Para os que se perguntam sobre de onde vem tanto apreço e deleite pela maternidade, digo que até então nem havia me dado conta, mas creio que algumas experiências vividas marcaram profundamente a forma como enxergo esse negócio de ser mãe.
A FALTA
Perder minha mãe ainda quando criança me fez encarar a maternidade de uma forma especial, pelo menos sob duas perspectivas diferentes.
A perspectiva da filha e a experiência de que mães não são para sempre, da falta que uma mãe pode fazer.
Mães não são para sempre e elas podem partir mais cedo do que a gente imagina. Algo que me acompanha é a experiência de saber que os filhos ficam e o que fica da mãe são os ensinos, as memórias. Isso me faz constantemente pensar sobre o que eu gostaria de deixar para minhas pequenas.
Não sei por quanto tempo estarei por perto. Não tenho nenhum controle sobre a minha permanência física com minhas pequenas, mas posso fazer algo a respeito do que ficará de mim em suas mentes e corações.
Não são muitas as memórias que tenho da minha mãe, infelizmente, mas as poucas que tenho são capazes de encher meus olhos de lágrimas e meu coração de alegria: comer o brownie recém-saído do forno com um copo de leite puro (ela não deixava colocar nescau, porque dizia que já tinha chocolate demais no brownie), chamar os primos pra comer a pizza de liquidificador (os primos eram todos vizinhos), balançar na rede da varanda (ela amava uma rede), ir pra universidade assim aula junto com ela (quando eu não tinha aula), a festinha do dia das mães da escola.
Muita gente não entende o porquê de tanto trabalho para festejar cada conquista, cada aniversário, cada etapa da vida. Além do prazer de viver e comemorar cada momento graciosamente concedido por Deus, está o desejo de construir memórias.
Um dia nós vamos e esses momentos ficam guardados. Não somente memórias de momentos passados, mas, principalmente, o que lhes ensinamos através desses momentos
Na minha mente uma coisa martela sempre: não sabemos quanto partiremos, por isso precisamos aproveitar cada oportunidade para ensinar, treinar, educar, preparar nossos filhos para a vida.
A perspectiva da mãe e experiência da brevidade da vida que não garante a ninguém muitos dias para curtir e se deleitar com seus filhos.
Minhas reflexões hoje não são mais apenas as reflexões de uma filha de 11 anos sobre a falta que uma mãe faz na vida de uma criança, mas também as reflexões de uma mãe sobre como não temos controle algum sobre o quanto teremos de tempo para curtir nossos filhos.
Em um momento estava dando um beijo de despedida na minha mãe, na cozinha, depois do café da manhã, na correria de ir para escola em cima da hora em mais um dia de aula de manhã bem cedo. Em outro, estava dentro do carro, voltando da escola com meu pai, que, numa fortaleza sem tamanho, segurava o choro até que chegássemos em casa para que, trancados em seu quarto, onde podíamos estar apenas nós em uma casa que já se enchia de pessoas (fato que até então ainda não entendia), nos desse a notícia de que minha mãe já havia partido.
E assim sou constantemente e inconscientemente lembrada da brevidade da vida e do valor de cada momento. Esse sentimento é real pra mim. Nós, mães, não sabemos quanto tempo teremos para curtir nossos filhos.
Tenho certeza de que se minha mãe soubesse que não teria tanto tempo teria aproveitado mais, não que não o tenha feito do seu jeito.
A INCAPACIDADE
Atravessar quase 5 anos de infertilidade certamente me ensinou muito e também marcou indelevelmente a minha forma de ver a maternidade.
Entender que ser mãe é algo que não depende exclusivamente de você, que não é algo que você pode controlar e que não depende simplesmente da sua vontade muda completamente sua forma de enxergar a maternidade.
Mais do que uma condição biológica sob nosso controle, ser mãe é algo que está debaixo do controle soberano e amoroso do nosso Deus. Ser mãe é concessão divina. Ele pode dar ou não, como lhe apraz. Ele tem seus motivos e esses motivos são sempre bons, por mais que a gente não entenda.
Experimentar a infertilidade nos ensina sobre a soberania de Deus, sobre a nossa pequenez e sobre a nossa dependência dele.
Nos ensina também que maternidade não é apenas mais uma coisa que a gente faz, organicamente, automaticamente, como mais um item na lista das atividades básicas do nosso ciclo vital. É algo especial, é graca divina, como tudo o mais nessa vida. É algo que vem do alto e que exige de nós uma conduta que considera as coisas do alto.
Desculpem, mas não consigo ver ou viver a maternidade de outra forma. Isso já faz parte de mim. Deus me conduziu por este caminho e eu sou muito grata a Ele por isso.
Abraço carinhoso,
Renata Veras.
5 comentários
Fui muito abençoada por esse texto. Novamente, obrigada, Renata.
ResponderExcluirVocê poderia escrever mais sobre a infertilidade. Há muitas irmãs nessa situação. Vc cogitou a adoção? Como lidou com a infertilidade quando ainda não sabia o dia de amanhã? Vc fez algum tratamento?
Soli Deo Gloria! Essa semana estava pensando justamente sobre isso Renata!O que deixarei para meus filhos, tenho uma filha chegando na adolescência e bateu aquele desespero de quanto tempo ainda terei ela todos os dias comigo para prepara-la para ser uma mulher segundo o coração de Deus!Filhos são flechas, mas o guerreiro não joga suas flechas a toa, ele sabe muito bem o alvo. Que Deus nos ajude nessa missão. Que o Senhor continue te abençoando!Paz!
ResponderExcluirDeus seja louvado. Que o Senhor abençoada mais e mais você e sua família Renata, abraços.
ResponderExcluirNão sou casada, nem mãe. rs.. Mas fui tremendamente abençoada com este texto. Quero também amar a maternidade assim como você! Deus seja louvado. Abraço Renata.
ResponderExcluirMe identifico com você. Minha mãe faleceu quando eu tinha 12 anos e é exatamente assim que me sinto..cada momento com meus filhos é precioso! Esse fato moldou completamente a minha maneira enxergar a maternidade. Que Deus continue a lhe abençoar, cuidar e orientar nessa divina tarefa de ser mãe. Eu...tô quase chegando na tarefa de ser avó (com quem tb não tive o privilégio de conviver)! Mas, sei que da mesma forma, O Senhor vai me orientar! Deus seja louvado por sua vida!
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