Ler a história dos hebreus e ver a rapidez com que eles construíram aquele bezerro de ouro sempre me intriga profundamente. Mas confesso que hoje, nem mais tanto assim. Tenho observado que a rapidez com que nós, mulheres, fabricamos ídolos supera em muito a dos hebreus e hoje é isso que tem me surpreendido.
Somos pequenas máquinas orgânicas de fabricar ídolos, pequenas máquinas de produzir religiões. Talvez isso seja explicado pelo que a sociologia chama de ‘a natureza religiosa do indivíduo’. Nossa natureza necessita de transcendência, de razão, de finalidade, de propósito. Na falta do conhecimento da Verdade sobre nós e sobre o porquê estamos aqui, transformamos coisas passageiras e triviais em religiões, dignas de nossa devoção.
Já repararam na capacidade e na criatividade feminina para criar ídolos? E nossos ‘pequenos deuses’ são tão ou mais ridículos que aquele bezerro feito de ouro pelos israelitas. Não é difícil se deparar com as adoradoras da maternidade, as adoradoras da amamentação, as adoradoras da adoção, as adoradoras do parto normal, as adoradoras da domesticidade, as adoradoras do cabelo sem química, as adoradoras da alimentação saudável. Temos a extrema facilidade de transformar ‘coisas’ em ‘deuses’ a quem entregamos a responsabilidade pelo nosso sentimento de valor e realização, dignos de nossa devoção e de nossas reações mais apaixonadas. E em torno desses ‘deuses’ criamos verdadeiras religiões, verdadeiros clubes ou comunidades às quais temos prazer em pertencer, com listas de prescrições básicas para a vida, para a salvação e para a felicidade - e para a condenação daquelas que não a seguem.
Da mesma forma que um touro ou um punhado de ouro (ambas boas criações de Deus), em si mesmos, não constituem mal algum, nenhuma dessas coisas – maternidade, amamentação, parto, cuidado com o cabelo, alimentação, etc. - são, por elas mesmas, erradas. Pelo contrário, são graças recebidas do alto para serem usadas em nosso benefício. Aliás, os ídolos geralmente são coisas naturalmente boas que, tristemente, tem seu valor, importância e prioridades invertidas e, por isso mesmo, acabam deixando de ser fontes de benção e se transformam em pesos escravizadores.
O que chamam de ‘natureza religiosa do indivíduo’ é explicada e chamada nas Escrituras de ‘ser criado para Deus’. Fomos criadas para adorar, para devotar corpo, alma, espírito, emoções, forças a algo além de nós. À semelhança dos hebreus, necessitamos de um Deus (e não ‘deuses’) que nos guie, que seja digno de nossa devoção incondicional. No vácuo da recusa de reconhecer Deus como o único Deus e o único digno de nossa adoração, fonte de pertencimento, de identificação, de valor e de sentido, acabamos recorrendo aos ‘deuses’ que criamos.
Quantas vezes você colocou seu valor, seu senso de realização em algo meramente aqui da terra (maternidade, moda, casamento, aparência física, intelectualidade)? Quantas vezes a necessidade de pertencimento, de fazer parte de um grupo, de uma causa, te levou a dar valor exagerado e a idolatrar a coisas passageiras? Quantas vezes a devoção a algo passageiro fez você tirar o foco do alto e você acabou com suas forças e alegria drenadas?
Em Cristo temos pertencimento, temos sentido claro de missão, de propósito de vida. Quando adoramos e nos devotamos a Cristo podemos desfrutar das bênçãos criadas pelo Pai para nós (seja a maternidade, a amamentação, a beleza, a saúde) sem que nenhuma dessas coisas nos causem peso, frustração ou de que delas dependa nossa felicidade ou nosso sentido de realização.
Enquanto não encontrarmos em Deus a fonte de tudo aquilo que necessitamos, à semelhança dos hebreus criaremos 'ídolos' que invariavelmente nos guiarão à frustração e à infelicidade.
Um abraço carinhoso,
Renata Veras.
Ler a história dos hebreus e ver a rapidez com que eles construíram aquele bezerro de ouro sempre me intriga profundamente. Mas confesso qu...