Por ser um tema cercado de muito preconceito e maus entendidos, acho importante falar de domesticidade primeiro deixando claro o que ela não é. Diferente do que o mundo (e mesmo algumas pessoas de dentro da igreja) costuma dizer, domesticidade não significa idolatrar o lar e limitar sua existência e atuação a ele como um fim nele mesmo.
Domesticidade é entender o valor do cuidado com a família e com o lar como forma de glorificar a Deus e cumprir o papel dentro do plano de Deus através do cuidado com a família.
Assumir a domesticidade como missão não significa que a mulher limitará a si mesma e menosprezará todas as suas potencialidades. Não significa que ela se tornará improdutiva e inútil para sociedade, desambicionada ou intelectualmente limitada.
Assumir a domesticidade como missão significa que a mulher reconhece o seu papel maravilhoso estabelecido na criação de cooperação com seu marido e de maternidade e o caráter missiológico desses papéis dentro do plano de Deus.
Significa reconhecer a validade e autoridade das Escrituras que falam desse papel tão importante e central para o reino de Deus (Tito 2:5, Pv 31:27, I Tm 5:8)
A missão da domesticidade envolve muitos aspectos bem como educação dos filhos, testemunho aos vizinhos, hospitalidade, etc. Questões que continuam pertinentes e relevantes nos das de hoje – ouso dizer que mais relevantes do que nunca!
A Reforma Protestante e o resgate à domesticidade
Existe uma cena da história da reforma protestante que considero emblemática para o resgate do ministério importantíssimo da mulher como esposa, mãe e dona de casa. A cena se passa em 1523, quando Lutero auxilia na fuga de 12 jovens freiras de um convento na Alemanha.
Essa cena ilustra de forma emblemática o retorno da mulher ao lar, aos papéis dignos e maravilhosos concedidos a ela pelo criador. A reforma cumpre um papel importantíssimo ao trazer de volta a dignidade do casamento, da maternidade e da domesticidade, valores (de certa forma) desprezados durante todo o período medieval em que o supremo valor de uma mulher estava na sua castidade. As mulheres, me maneira geral, eram vistas de forma negativa pelo seu potencial de tentação sexual aos homens, pelo seu poder de sedução. Assim, as mulheres que desejavam viver piedosamente e devotar suas vidas ao Senhor, invariavelmente deveriam fazer voto de castidade e se dedicar à clausura nos conventos femininos.
A imagem dessas doze freiras fugindo de seus conventos e, posteriormente, casando e constituindo família ilustra bem o fim da dicotomia entre vida religiosa e vida comum, resgatando a ideia bíblica de que as mulheres cumprem seu papel no Reino e para o Reino assumindo seus papéis como esposas, donas de casa e mães.
Ainda outra cena emblemática da reforma é a cena de um lar que cumpriu de forma exemplar a sua função para o Reino de Deus. Dentre as 12 freiras que fugiram daquele convento, estava Catarina, que em 1525 veio a casar com Lutero. O lar de Lutero e Catarina funcionava como uma unidade produtiva, acolhedora e abençoadora.
Como dito, temos uma visão errada da domesticidade alimentada pelos valores dos nossos tempos. Vemos o lar hoje como unidade de consumo, unidade egoísta centrada na própria família, o que invariavelmente leva muitos a uma visão errada da função da dona de casa como alguém inútil e improdutiva.
É dito que a casa de Lutero, além de ser um centro produtivo, era também um centro de hospitalidade que por muitos anos, sob os cuidados zelosos de Catarina, serviu não somente de acolhimento e refrigério para Lutero em suas tantas lutas espirituais e ministeriais, mas serviu também às necessidades de centenas de convidados, refugiados e estudantes em suas necessidades físicas e espirituais que vinham em busca de conselhos, acolhimento e ensino. É dito ainda que, além de servir aos seus próprios filhos, a casa de Lutero de Catarina serviu de lar para outras crianças órfãs, por eles adotadas. O lar de Lutero e Catarina brilhava a glória de Cristo e dava testemunho do seu projeto maravilhoso de Deus para a família para as demais famílias da época.
Domesticidade no Séc XXI
Sim, uma das grandes contribuições da reforma foi também o retorno da visão do casamento, da maternidade e da domesticidade como ministérios valiosos e indispensáveis para o mundo e para o Reino.
Enquanto os antigos valores de honra, família, responsabilidade se perdem, os valores hoje enaltecidos e que moldam nossa mente determinando muitas de nossas escolhas como mulher são os valores de individualidade, independência e realização pessoal. A ideia de que precisamos perseguir a realização pessoal, o autodesenvolvimento, a independência financeira e o reconhecimento pessoal faz com que muitas de nós desprezem a ideia de casamento, maternidade e domesticidades.
Marido, casa e filhos muitas vezes são rejeitados ou desprezados, vistos como escolhas que impedem a nossa realização pessoal, que nos impedem de deixar uma marca significativa no mundo.
Longe de significar uma limitação do potencial de uma mulher, dar o valor devido à família, ao casamento, à educação dos filhos e à domesticidade pode ser o trabalho mais importante e de maior valor que uma mulher realizará em toda sua existência – até de valor eterno.
Segundo as palavras de um de seus biógrafos, “Catarina não escreveu nenhum livro nem jamais pregou um único sermão, mas seu inestimável auxílio possibilitou que seu marido fizesse tudo isso como poucos na História da Igreja.”
Sem dúvida alguma, necessitamos de uma nova reforma hoje, em nossas mentes e coração. Uma reforma de valores que reflitam o plano do nosso Criador e o caráter no nosso Mestre, onde o senso de serviço, de honra, de santidade, de dever, de comunidade, de família se sobreponha aos valores da individualidade, da independência e da busca pelo que é propriamente seu. Assim poderemos voltar novamente nossa mente e coração para o lar e enxergaremos o ministério maravilhoso e a contribuição extraordinário do desempenho dos papéis de esposa e mãe para o mundo e para o Reino de Deus.
CONCLUSÃO
Para finalizar, gostaria de deixar uma palavra de encorajamento para aquelas que abraçam a domesticidade como missão.
Provando o que as Escrituras nos dizem em Provérbios 31 que a mulher que teme ao Senhor, que cuida dos seus e que busca agradar a Deus cumprindo com zelo o seu papel de esposa, mãe e dona de casa será publicamente reconhecida, louvada e recompensada, finalizo com as palavras carinhosas de louvor de Lutero sobre sua esposa, nas quais o projeto divino maravilhoso de complementaridade é claramente reconhecido:
“Minha querida Kate me mantem jovem, e em boa forma também... sem ela eu ficaria totalmente perdido. Ela aceita bom grado minhas viagens e quando
volto está sempre me aguardando com alegria. Cuida de mim nas minhas depressões e suporta os meus acessos de cólera. Depois Dele, ela é o melhor presente que Deus já me deu nesta vida. Se algum dia, vierem a escrever a história de tudo o que tem acontecido (a Reforma) espero que o nome dela apreça junto ao meu. Eu oro por isso...”
A tudo isso, Catarina responde com o coração cheio de contentamento e sentimento de realização:
“Tudo o que tenho feito se resume a simplesmente duas coisas: ser esposa e mãe, e tenho certeza das mais felizes de toda Alemanha!”
Abraço carinhoso,
Renata Veras.
Por ser um tema cercado de muito preconceito e maus entendidos, acho importante falar de domesticidade primeiro deixando claro o que ela nã...