A ênfase na disciplina e no exercício de práticas devocionais podem ser facilmente confundidas com legalismo. Por essa razão, é preciso entender a diferença entre legalismo e disciplina para que as práticas devocionais, planejadas por Deus para o nosso benefício, não sejam encaradas como uma lista de obrigações pesadas, como um dever penoso.
Legalismo é a prática de certos ritos como forma de alcançar justiça própria e, consequentemente a salvação. É preciso ter claro na mente que a salvação que temos em Cristo nos é outorgada puramente pela graça, mediante a fé, independente de obras pessoais (Efésios 2:8-9).
A prática disciplinada de uma rotina de devoção brota de um coração regenerado, que reconhece a incapacidade e a necessidade visceral de andar junto com o Senhor. Brota de um coração que reconhece as limitações e as tendências pecaminosas que militam na sua carne, que o faz esquecer de Deus.
A disciplina espiritual e a utilização de recursos externos para ajudar no relacionamento e na caminhada com Deus não é uma invenção puramente humana. O Antigo Testamento nos ensina muito a esse respeito. O próprio Deus, completamente conhecedor das tendências do seu povo à autossuficiência e ao esquecimento, prescreveu recursos que ajudavam o seu povo a lembrar do seu Deus.
- Trombeta
- Franja nas túnicas
- Texto sagrado preso ao corpo e nas paredes da casa
Sem sombra de dúvidas, existe uma diferença significativa entre nós e o povo do Antigo Testamento. Além de todos os recursos externos dos quais podemos nos valer, precisamos lembrar que, diferente do povo da velha aliança, temos hoje, fazendo morada em nós, o próprio Deus, o Espírito Santo, que tem o ministério maravilhosamente gracioso de nos ajudar a lembrar de tudo o que o Senhor espera de nós, que nos acusa, que atua na nossa consciência, que nos convence do pecado.
Mesmo assim, na prática, parece que não somos muito diferentes daqueles que viveram nos tempos antigos. A velha natureza que milita em nós, repetidamente e continuamente, tende a entristecer, emudecer, calar o Espírito que em nós habita. À exemplo de Paulo, precisamos diariamente disciplinar a nós mesmo, subjugar o nosso corpo a fim de nos exercitar nas práticas espirituais que nos conduzem à piedade.
“Vocês não sabem que dentre todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio. Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre. Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar. Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado.” 1 Coríntios 9:24-27
Quem entende corretamente o valor do exercício e da disciplina espiritual entende também que as práticas devocionais não nos trazem mais um peso de dever e responsabilidade, mas que elas são ferramentas graciosamente planejadas por Deus para nos ajudar a viver nos anos da nossa peregrinação nos dando alívio, nos corrigindo, nos encorajando, ajustando nosso foco, renovando nossas forças.
Deixar de disciplinar a nós mesmas nas práticas de intimidade e comunhão com o nosso Deus não nos significa a perda da salvação, mas significam que desprezamos as bênçãos maravilhosas de Deus que podem nos ajudar a ter plenitude de vida.
Que o Senhor nos ajude a desenvolver práticas e hábitos disciplinados que nos levem para mais perto dele.
Um abraço carinhoso,
Renata Veras
Imagem: freepick.com
A ênfase na disciplina e no exercício de práticas devocionais podem ser facilmente confundidas com legalismo. Por essa razão, é preciso ent...