“Quanto a mim, pouco importa como sou avaliado por vocês ou por qualquer autoridade humana. Na verdade, nem minha própria avaliação é importante. Minha consciência está limpa, mas isso não prova que estou certo. O Senhor é quem me avaliará e decidirá.” I Coríntios 4:3,4
Creio que já tenho compartilhado muitas coisas a respeito de como Deus tem me ensinado a lidar com minhas imperfeições nesses últimos tempos. No módulo mais recente e mais difícil deste doloroso curso (que ainda não sei se já poderia fazer a prova final) Ele tem me ensinado coisas difíceis e preciosas que, apesar de muito relutar internamente, gostaria de compartilhar com vocês. São algumas lições que ainda estou tentando aprender e exercitar sobre perfeccionismo, auto-julgamento implacável, julgamento de outros, temor de homens e a avaliação graciosa de Cristo.
Não sei como você lida com erros e críticas, mas eu, independente do tipo e do teor das críticas, tenho a tendência de SUPERVALORIZAR AS AVALIAÇÕES DOS OUTROS a respeito de mim e de fazer uma AUTO-AVALIAÇÃO IMPLACÁVEL e irremediavelmente negativa que acolhe tudo e me avalia como ainda pior do que tudo o que me tiverem dito. Isso é muito bom até certo ponto porque realmente sou bem pior do que algumas pessoas podem ver e rever as falhas é sempre uma boa oportunidade de pedir perdão e aprender. Por outro lado, pode ser perigoso demais porque pode desencadear um efeito desesperançoso capaz de me paralisar, neutralizar, gerando um sentimento devastador de desqualificação, fracasso e insegurança e um processo miserável e destrutivo de remoer todas as falhas já cometidas, mesmo as já arrependidas, confessadas e perdoadas. É triste!
Pois é! Descobri que sou uma verdadeira máquina de remoer falhas. Daquelas que não deixa nada de fora. Como debaixo de uma avalanche desesperadora, me vi sufocada e presa sob todas as mínimas falhas que cometi na vida inteira diante de Deus e de outras pessoas: mesmo um pensamento maldoso, uma palavra mal pensada, uma má escolha. Despertada por lembranças de palavras de acusação, cada mínima falha brotava na memória uma após a outra, me acusando, me desqualificando, me ameaçando, me paralisando. No meio de dias remoendo e me revolvendo miseravelmente na culpa de pecados já confessados e perdoados (isso é muito importante), considerei desistir e evitar todos os projetos ministeriais e planos que estavam por vir, afinal, definitivamente, na minha auto-avaliação implacável que não conseguia enxergar a graça do Deus que usa pessoas imperfeitas, me via a pessoa menos indicada para fazer qualquer coisa.
Alguém poderia dizer que esses são sentimentos completamente estranhos para quem já recebeu o perdão de Cristo. Mas se há algo que aprendi na minha curta caminhada é que nunca estou sozinha em minhas dificuldades e fraquezas. Sei que outras pessoas, assim como eu, podem, por um motivo ou outro, se encontrar em momentos em que não conseguem olhar de maneira correta para suas imperfeições. E essas pessoas, mesmo salvas como eu, precisam trazer mais uma vez à memória as boas novas maravilhosas da graça de Cristo que são capazes de restaurar a esperança perdida. Muitas vezes precisamos do bê-a-bá e ainda de um pouco mais.
O BÊ-A-BÁ
Essas são verdades fundamentais e básicas, que todos que recebemos o evangelho sabemos, mas que as vezes esquecemos de trazer para nossa vida cristã prática. Todas essas verdades podem ser encontradas no livro de 1 João (um livro que meu marido, que conhece minhas tendências de auto-avaliação implacável, empre me lembra de reler):
A - Mesmo regeneradas, todas nós lutamos contra o pecado.
B - Se dissermos que não temos pecado nos enganamos.
C - Cristo morreu pelos nossos pecados – pelos que já cometemos e pelos que ainda porventura cometamos.
D - Se confessarmos os nossos pecados ele é fiel e justo para nos purificar
E - Nenhuma condenação restou para nós
UM POUCO MAIS QUE O BÉ-A-BÁ.
Mas se sabemos quem somos e cremos no que Cristo fez e faz por nós, porque ainda enfrentamos momentos em que nossas imperfeições e a avaliação dos outros parecem nos sufocar e nos paralisar?
Através da minha dolorosa experiência, Deus me mostrou que na raiz dessa tendência suicida que desconsidera a GRAÇA, a MISERICÓRDIA e a SUFICIÊNCIA do sacrifício de CRISTO estão outros dois pecados que precisam ser arrancados.
Aprendi que me encontro em momentos desesperadores assim porque deixo de olhar para CRISTO e passo a olhar demais para MIM mesma e para as outras PESSOAS. A razão de sofrer, remoer, amedrontar e paralisar diante das minhas próprias falhas e do julgamento dos outros é porque acabo me auto-avaliando implacavelmente cobrando/esperando mais do que Deus espera de mim – JUSTIÇA PRÓPRIA, PERFECCIONISMO – e me preocupando demais com como os outros vão me avaliar diante das minhas falhas – TEMOR DE HOMENS.
PERFECCIONISMO E JUSTIÇA PRÓPRIA: A AUTO-AVALIAÇÃO IMPLACÁVEL.
Uma das raízes do meu problema para lidar com minhas falhas e fracassos é o perfeccionismo. O PADRÃO DE PERFECCIONISMO que tento impor a mim mesma (ou que os outros tentam impor) pode nos fazer esquecer de quem realmente somos e do PADRÃO que realmente importa. Como pecadores, o PADRÃO DE PERFECCIONISMO que nós e as pessoas ao nosso redor nos impõe é insuficiente, desfocado e limitado. Ao tentar cumprir o esse padrão humano por nossas próprias forças nos escravizamos, enredamos a nós mesmas e desanimamos.
Por outro lado, acima desse PADRÃO PESSOAL, está o PADRÃO PERFEITO DIVINO – um padrão que, além de inimaginavelmente superior a qualquer outro, é um padrão impossível de ser atingido sem ajuda. Ao mesmo tempo que essa verdade eleva o padrão que seguimos na nossa caminhada em busca da santidade e 'dificulta' as coisas, também reorienta nosso foco para nossa completa dependência e segurança em Cristo nos trazendo alívio e esperança. O mais importante é lembrar que ELE, sabendo que não seríamos capazes atingir esse padrão e de cumprir todas as exigências de uma vida perfeita sozinhas, providenciou CRISTO para atingir esse padrão por nós. E sabendo que ainda tropeçaríamos no caminho, providenciou perdão e Alguém advogando por nós.
Por mais que confessemos que somos insuficientes e que necesssitados da justiça de Cristo para nossa salvação, demonstramos o pecado de depender de justiça própria quando não nos agarramos e não dependemos da justiça de Cristo também para a nossa caminhada de santificação e nos condenamos, desqualificamos, desanimamos por causa de nossa imperfeição. O perfeccionismo e a auto-avaliação implacável ousa estabelecer um padrão acima do padrão do próprio Deus e se julga no direito de condenar aquilo que o próprio Deus já perdoou.
Submeter a nós mesmas (ou os outros) a um padrão humano de PERFECCIONISMO pessoal e não ao pacote completo do PADRÃO DE PERFEIÇÃO DIVINA (que contempla graça, misericórdia, auxílio e perdão) é condenar a si mesma (e o outro) a uma vida miserável de cobrança e fracasso.
O PADRÃO PERFEITO DE CRISTO e não o meu próprio PERFECCIONISMO deve ser meu alvo. O meu PERFECCIONISMO (ou dos outros) é justiça própria implacável, incapaz de me levar a diante. O PADRÃO PERFEITO DE DIVINO é justiça perfeita de Deus, carregado de graça, misericórdia e auxílio, e que irremediavelmente me leva a CRISTO.
Parte do evangelho inclui a verdade de que éramos desesperadamente pecadores e de que ainda somos pó e ainda lutamos e lutaremos com o pecado até que sejamos completamente transformados.
Devemos esmurrar o próprio corpo, subjugar a velha natureza e lutar com todas as forças para atingir o padrão divino, mas não fazemos isso por nossas forças e muito provavelmente (há quem creia que sim) não atingiremos a perfeição aqui. Mas cedo ou mais cedo toparemos na triste realidade do nosso pecado e ele deverá nos causar tristeza, dor e pesar. Mas a consciência de pecado e a necessidade de justiça sem a compreensão de que a nossa justiça vem de Cristo e de que a obra ainda está sendo completada por Ele em nós pode nos fazer entrar num buraco sem fundo – como o que eu entrei. Necessitamos de Cristo, da sua obra perfeita consumada na cruz. Precisamos da sua ajuda, da sua graça, do seu perdão. Precisamos da sua mão que começou a boa obra em nós e que há de completá-la até a vinda de Cristo.
TEMOR DE HOMENS (PV 29:25): SUPERVALORIZAR A OPINIÃO DOS OUTROS.
Outra raiz que alimenta minhas dificuldades para lidar com minhas limitações é o temor de homens. O temor de como as pessoas me julgarão quando se depararem com minhas falhas, imperfeições e pecados. Viver assim é, sem sombra de dúvida e por muitas razões, viver atormentado.
Primeiro porque, como dito acima, mais cedo ou mais cedo infelizmente iremos falhar.
Segundo porque as pessoas julgam, mas não veem tudo, não sabem tudo. Não veem o coração, não conhecem as intenções e nem as motivações (para pior e para melhor). São pessoas, mas são apenas pessoas.
Terceiro, as pessoas também não são todo-graciosas, misericordiosas, bondosas e amorosas. São pessoas pecadoras também, que precisam de graça e misericórdia assim como nós.
Pessoas são importantes. Deus nos fez para viver em relação com elas, mas não podemos esquecer que elas são apenas outras pessoas como nós – limitadas e pecadoras. Valorizar demais a avaliação dos outros a ponto de esquecer da valiosa avaliação de Deus é colocar as pessoas acima do nosso Deus.
O temor do homem faz com que cada pecado pareça ainda pior – e pelo motivo errado, não por causa de Deus, mas por causa do outro. Sofremos por causa da avaliação implacável dos outros e esquecemos da avaliação muito mais justa, graciosa e misericordiosa do nosso Deus – e que é a avaliação que realmente importa.
Confesso que esse é um dos pecados que mais me causa transtorno. Eu sei quem sou, sei o quanto falho e sei do quanto dependo do perdão e da misericórdia de Deus a cada mínimo dia. As pessoas ao redor, em contrapartida, nem me conhecem tão bem e nem são tão graciosas e misericordiosas com minhas as falhas. O temor de homens frequentemente gera em mim um medo paralisante que evita fazer qualquer coisa para evitar que as pessoas se ‘decepcionem’ comigo, ou que usem minhas falhas (mesmo as admitidas) para me acusar ou causar vergonha ao nome de Cristo.
A aprovação humana é verdadeiramente uma cilada. As pessoas nem sempre são tão justas e verdadeiras e quase sempre não são graciosas e misericordiosas. Quem tem consciência de que certamente e infelizmente ainda cometerá erros (alguns até bem horríveis – que Deus me livre deles!) viverá atormentado de depender da avaliação e aprovação humana.
Deus tem me ensinado que o antídoto para o temor de homens não é me justificar diante deles, não é apontar minhas falhas antes que eles as apontem, não é me esconder para evitar maus julgamentos, não é deixar de fazer o que Ele quer que eu faça por causa de possíveis e prováveis erros que ainda vou cometer.
O antídoto para a culpa e para o medo paralisante por causa dos pecados do passado e do futuro é olhar para Cristo e somente para Cristo como avaliador relevante. Para o que Ele já fez por nós e para como Ele trabalha em nós. A aprovação dos homens pode ser boa, mas a divina é a que nos importa. Ele conhece nosso coração, ele sabe das nossas lutas. Ele pagou o preço pelo nosso pecado - por aqueles que já cometemos e pelos que ainda iremos cometer. Ele é perdoador e usa nossas falhas para um fim proveitoso. Ele é todo gracioso e todo misericordioso. É a Ele que servimos e é com a opinião dEle sobre nós que devemos nos importar em primeiro lugar. GLÓRIA A DEUS POR ISSO!
Alguns versículos que têm feito muito sentido em meio a tudo isso e que Deus tem usado para me ensinar se encontram em I Coríntios 4:3,4. São lembretes importantes para aqueles que sofrem com a auto-avaliação perfeccionista e com a avaliação dos outros. São as palavras de Paulo que dizem:
“Quanto a mim, pouco importa como sou avaliado por vocês ou por qualquer autoridade humana. Na verdade, nem minha própria avaliação é importante. Minha consciência está limpa, mas isso não prova que estou certo. O Senhor é quem me avaliará e decidirá.”
Nesses últimos tempos Deus tem me ensinado essas coisas e confesso que não tenho tido tanta facilidade assim para aprender (ainda não sou uma pessoa que não se importa tanto com o que dizem ou pensam sobre mim). O aprendizado não tem sido fácil, mas não quero reprovar nessa matéria. Esse texto, escrito em primeiro lugar para mim mesma, são como ‘notas de aula’ ou como resumo pessoal das lições ensinadas pelo Supremo Professor. Assim como tantos outros textos, estou certa de que precisarei ler e reler essas anotações, várias vezes e em vários momentos, na hora das provas e avaliações, mas meu desejo é que aquele me ensina e que é o Professor por Excelência, me conceda graça e me ajude a ser uma boa aluna. Espero também que essas breves anotações de curso possam ser úteis para colegas de sala que estão cursando esta mesma disciplina e que tem passado por provas nesta mesma matéria.
Um abraço carinhoso,
Renata Veras.
“Quanto a mim, pouco importa como sou avaliado por vocês ou por qualquer autoridade humana. Na verdade, nem minha própria avaliação é impor...