Quartinho pronto, enxoval completo, lembrancinhas de maternidade feitas. Nas últimas semanas de gestação eu corri para tudo estar preparado para a chegada da minha filha. Aprendi sobre parto e amamentação e sempre que me perguntavam sobre quem me ajudaria no pós-parto, eu dava de ombros e dizia que não sabia. O puerpério não era uma preocupação para mim, mãe de primeira viagem. "Meu bebê já estará em meus braços, não terei mais enjôos ou azia, o que pode ser tão difícil?", pensava comigo. Nunca estive tão errada.
Sabe aquela história de "expectativa x realidade"? Pois é. Minha expectativa era um puerpério tranquilo em que, apesar das novidades, minha vida não seria tão afetada assim. A máxima ajuda seria, provavelmente, uma faxina ou algo do tipo.
A realidade chegou me atropelando: minha filha chorava e eu não sabia identificar o motivo, meu marido voltou a trabalhar e eu me sentia sozinha, eu tinha medo de dar banho na neném e eu mesma não conseguia tomar banho e deixá-la sozinha. Tudo isso com uma boa dose de caos doméstico.
1. A mãe incapaz
Nos primeiros dias eu chorei por perceber minha incapacidade. Eu me vi incapaz de identificar o choro do bebê, incapaz de deixar a casa toda arrumada, incapaz de dormir, de comer ou de dar atenção para as visitas como eu costumava fazer antes.
Entender essa incapacidade foi fundamental para eu fazer algo que eu detesto fazer: pedir ajuda. Eu sou daquelas pessoas que prefere fazer tudo à sua própria maneira e que pensa que ser ajudada é, além de incômodo para o outro, um sinal de fraqueza. Eu adoro me sentir útil quando me pedem ajuda, mas detesto me sentir incapaz ao pedir. Essa foi a primeira das humilhações.
Não foi nada fácil dobrar meu ego e admitir que eu não dou conta de tudo. Não foi fácil ver minha família cozinhando, limpando e até cuidando da neném para me ajudar. As pessoas não faziam as coisas do meu jeito, mas sem elas muito não teria nem sido feito. Eu tive que entender que não estava no controle.
2. A mãe submetida
Além de admitir que preciso dos outros, que eu não sei fazer tudo e que meu jeito não é o único certo, eu tive que aprender a lidar com a servidão obrigatória. Deixe-me explicar...
Toda a minha vida eu participei de atividades na igreja, cumpri meus afazeres domésticos, auxiliei meu marido com suas atividades e experimentei a pressão e o prazer de trabalhar fora em uma carga semanal pesada cheia de prazos. "Eu sei servir", meu coração enganoso susssurrava.
Apesar das dificuldades de uma vida comum, eu estava acostumada a uma vida de decisões independentes - se eu quisesse ir à algum lugar, iria; se eu quisesse dormir mais cedo ou mais tarde, dormia. E essa dinâmica de vida adulta desmoronou aos meus olhos quando vi um pequeno serzinho depender de mim para tudo. Eu não podia mais sair para onde quisesse ou dormir quando quisesse. Tudo dependia do meu bebê porque meu bebê dependia de mim.
Além de ter a liberdade tolhida, as glórias dos serviços adultos também tinha sumido. Todo e qualquer serviço prestado na minha vida era, no mínimo, externamente reconhecido. Não falo de tapinhas nas costas, mas qualquer pessoa podia ver que eu estava dando duro. O puerpério não permitiu isso também.
O meu serviço era agora amamentar, trocar fraldas, limpar golfo de neném e, além de não ser nada glamuroso (as olheiras que o digam), era um serviço de excelência duvidosa - se você é mãe já deve ter experimentado a famosa sensação de estar fazendo tudo errado.
Eu me vi sem a liberdade com a qual estava acostumada, sem reconhecimentos (apesar de minha família amorosa e encorajadora) e completamente exausta com as demandas infinitas de um recém nascido. Assim, eu fui humilhada uma segunda vez.
3. A mãe aos pés da Cruz
Recebi conselhos de mulheres mais experientes, estudei sobre rotinas de bebês e ouvi centenas de vezes que essas dificuldades iriam passar. Mas nada me trouxe mais consolo do que a palavra de Deus.
"Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz." (Filipenses 2:3-8)
Nenhuma humilhação que alguém possa passar nesta vida se compara a humilhação de Cristo. Absolutamente nenhuma humilhação emocional, física ou moral (essas duas últimas caracterizaram meu puerpério).Nada se compara!
Jesus Cristo, sendo Rei do Universo e glorioso em majestade, nasceu em uma manjedoura entre animais. Jesus, a própria sabedoria encarnada, teve de se sentar para comer com uns doze homens tolos. Tendo ele diante de si os magníficos seres celestiais, viveu em um mundo caído onde mosquitos transmitem doenças. Sua humilhação culmina na cruz, mas começou muito antes dela. E por falar em cruz, foi nela em que ele foi pendurado como maldito após ser cuspido, maltratado e trajado da forma mais zombeteira possível. Sim, isso aconteceu ao Deus que mede universos com as mãos.
Jesus aceitou uma vida de humilhação com alegria (Hb 12:2) para nos alcançar com o amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (1Co 13). E nos encoraja em sua palavra a viver uma vida pautada nesta mesma atitude, ou seja, uma vida vazia de nós mesmos para ser cheia do serviço ao próximo em amor - a Deus e aos outros.
A compreensão desse chamado me deixou de joelhos diante de Cristo em agradecimento por cada dificuldade do puerpério. Eu sabia que estava sendo moldada à imagem de Cristo. A incapacidade de dar conta de tudo, as incontáveis limitações e a impossibilidade de tomar decisões individuais - por menores que fossem - eram pequenas humilhações que colocavam meu grande coração pecaminoso no seu devido lugar.
4. A mãe contente
"Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece." (Filipenses 4:11-13)
Quando um filho nasce, a mulher experimenta uma das maiores alegrias que esta vida nos oferece. Com todas as suas fofuras, um bebê traz grande deleite para uma família, mas há momentos que a rotina de um recém-nascido é um tanto desafiadora.
Se tivermos, no entanto, em nós o mesmo sentimento que teve Cristo Jesus e considerarmos nossa família superior a nós mesmas, o serviço prestado não nos trará angústia, mas contentamento. Saberemos viver entre sorrisinhos e choros; seremos contentes em noites de mamás tranquilos e em noites de cólicas. Tudo podemos naquele que nos fortalece.
5- Conselhos às mães
Se você está grávida, prepare-se também para viver o puerpério - acredite, você vai precisar. Se você é uma mãe de recém-nascido, desejo que Deus renove suas forças e te dê graça sobremaneira para ver os propósitos eternos de cada dia. Se você não faz parte da categoria de gestantes ou parturientes, te encorajo a auxiliar as mulheres que você talvez conheça e que estão nessa situação; que Deus te use para abençoa-las como usou pessoas para me abençoar.
A Ele sou grata por cada lágrima derramada e cada riso dado durante meu puerpério! A Ele toda glória.
Quartinho pronto, enxoval completo, lembrancinhas de maternidade feitas. Nas últimas semanas de gestação eu corri para tudo estar preparado...